A vida em Amesterdao



Nao o retalho da vida de um medico, mas o retalho da vida de uma portuguesa na terra dos diques, bicicletas, tulipas, moinhos, queijo... e sim, das drogas e do Red Light District tambem.


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

It's not us, it's the others!

Não somos nós, são os outros

Esta é a traducao (algo livre) de um artigo de opiniao de um Holandes sobre os modos sociais dos Holandeses. Nao podia concordar mais, as vezes choca-me o como as pessoas nao tem consideracao, só olham para os seus umbigos. Mas sempre o entendi como "diferencas culturais". Pelos vistos, os próprios holandeses se queixam do mesmo uns em relacao aos outros...Está escrito na 1a pessoa.


Mais de 90 por cento dos holandeses dizem que as outras pessoas são muito egoístas. Noutras palavras: cada um individualmente acusa todos os outros de não terem consideração suficiente pelos outros.

Será que realmente precisam que lhes digam que, se deixarem o cão defecar no meio do passeio, há uma boa hipótese de que alguém possa pisar os cócó? Será que ainda não percebemos que, se ouvirmos a nossa música muito alto, poderemos incomodar os outros? Será que o refrigerante vazio escorrega das nossas mãos por si só? Num comboio, será que realmente desconhecemos que alguém se quer sentar no ultimo lugar vazio onde temos o nosso saco? Não vemos as grandes letras na janela para identificar o transporte como o "carruagem silenciosa" quando estamos na conversa ao telemóvel?

Claro que sim, e se nós formos a 'vítima', em tais casos, não temos qualquer dúvida de que os nossos interesses e direitos estão a ser deliberadamente ignorados.

Cortesia, vontade de agradar e bons costumes não são virtudes nacionais nos Países Baixos. Em certa medida estamos mesmo orgulhosos deste facto. Nós gostamos de dizer que isto acontece porque nós somos honestos, directos e simples. Aqueles nascidos ou criados fora das nossas fronteiras, diriam que os holandeses são principalmente brutos, bruscos e rudes.

Se uma pessoa holandesa diz, "Eu vou ser honesto contigo," já se sabe que o que se segue não será uma partilha, mas um insulto. E embora já haja um serviço um pouco melhor nos Países Baixos, ainda há um persistente sentimento na indústria hoteleira holandesa que hospitalidade e serviço é sinónimo de escravidão e lambidela de botas.

No entanto, mais de 90 por cento dos holandeses dizem que outros são demasiado egoístas. Há algo de trágico e cómico nisto: na verdade, todos acusam todos de não terem suficiente consideração pelos outros.

Mas é muito coerente com o retrato que emerge de todos os estudos nesta área: não há nem o menor indício de auto-crítica. São sempre os outros que precisam de mudar. A rigidez e honestidade que Johan Huizinga reconheu como um espírito nacional há 75 anos - bem como a arrogância que os acompanha - mudou.

Quem está irritado com alguém pelo barulho da música, a porcaria deixada no chão por outra pessoa com cão, o saco pousado no último lugar sentado vazio, sente-se lesado, em primeiro lugar, no que diz respeito à sua própria "excepcionalidade".

Quando falamos sobre como a cortesia parece ter desaparecido, não estamos a falar sobre o lugar vazio no comboio, mas sobre o lugar de honra, que pensamos que estamos a pagar. O crime não é só que não estamos a ser considerados, é que não somos o único a ser considerado.

Isto pode parecer um pouco exagerado, mas as pessoas que vivenciam estas situações sociais são culpadas de exagero. O exagero da "excepcionalidade" de sua própria pessoa - a essência do narcisismo - não só explica por que razão as pessoas estão a tornar-se mais mal educadas umas para as outras, mas também o facto notável que, numa altura em que muitas pessoas deviam estar preocupadas com o emprego e as suas posses, aparentemente as pequenas fontes de irritação continuam a dominar as suas preocupações.

Uma reviravolta ainda é possível, mas só se nós começarmos a mudar-nos a nós próprios, em vez de apenas esperar que os outros mudem.

Existe um velho provérbio chinês que pode ser adaptado à situação holandesa: "Mestre", pergunta o aluno, "Como faço para me tornar uma pessoa boa?" O Mestre: "Imita uma pessoa boa por algum tempo."

Nem mais!

1 comentário:

Thessa disse...

Muito bem "falado". Concordo com tudo!